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O céu e o inferno de ser Neymar
Sinceramente? Não me importa e nem nunca me importou o que um jogador de futebol faz fora de campo. Ronaldo supostamente se envolveu com travestis, Romario era conhecido pelas noitadas e os migués nos treinos do dia seguinte. Eram épocas diferentes, sem a exposição exagerada de hoje em dia.
Neymar Jr é mais que um jogador de futebol, é um popstar. Sua vida é vigiada e comentada 24 horas e, veja só, a culpa é dele mesmo. Neymar sabe aproveitar muito bem a era das redes sociais para se promover, a cada passo é um post, jantar com os “parças”, resenha no seu iate e foto com a namorada atriz global. É um cara que sabe aproveitar a vida, um bom vivant. Nada de outro mundo para quem sustenta a casa desde os 11 anos de idade.
O que isso implica em seu futebol? Na teoria, absolutamente nada. Como eu disse anteriormente, não me importa o que alguém faz fora de campo! Não é exclusividade do Neymar ser midiático e outros jogadores mais antigos são romantizados por isso.
O que eu quero é ver o Neymar jogando bola. E aí que começa a minha crítica. O que é "jogar bola"? Se for cavar faltas, individualismo ao extremo e ser totalmente destemperado dentro de campo, você com certeza está satisfeito com sua atuação na Copa. Eu não!
Neymar é o mais cobrado, lógico que é! Ele mesmo se colocou nesse papel. Primeiro pelo seu belíssimo futebol, que desde jovem, precocemente, o colocou em um nível acima dos outros de sua idade. Acho inclusive que pela sua bola, já deveria estar em um nível mais alto. E é aí que entra o seu demônio.
"Estamos criando um monstro!". Lembro-me como se fosse ontem. René Simões, então treinador do modesto Atlético Goianiense, horrorizado após uma partida em que seu time perdeu para o Santos do menino Neymar. O menino que xingou o treinador do próprio time, xingou o juiz e desrespeitou companheiros de profissão. Apenas um menino! Aquela era hora mesmo de aprender. O que eu vi? Desde então, René passou a ser lembrado por ter chamado a nossa esperança de hexa de "monstro". Suas atitudes conseguem travar sua evolução, isso é um fato que acontece com vários jogadores. Cristiano Ronaldo só se tornou o fenômeno que é quando deixou de lado as firulas, o “cai cai” e os telões, para se dedicar a ser o melhor do mundo em sua geração. Talvez você não se lembre, mas o português era chamado de amarelão, era vaiado nos gramados ingleses por simular faltas e era tão lembrado por suas poses e caretas no telão, que conseguiam por muitas oportunidades ofuscar seu brilhante futebol. Enquanto isso, o seu rival menos carismático, argentino, baixinho e discreto, assombrava o mundo com seus gols, arrancadas e títulos. Uma mudança na linha do tempo do gajo o colocou no patamar de Messi, para muitos até, o colocou acima. Cristiano não deixou de ser um vaidoso, excêntrico e popstar, mas ele soube separar sua personalidade do seu objetivo dentro de campo.
Neymar tem todo um staff por trás. Seu pai, seus parças, todos estão dispostos a "blindar" o menino. Aí eu me questiono: o que ele ganha por ser blindado? Cada pessoa tem um olhar clínico sobre o futebol, isso é um fato, porém, basta um esforço e você verá um menino artificial, de topete loiro e atitudes questionáveis. Lágrimas de jacaré, mimo, necessidade de se destacar por tudo, pelo cabelo, pelo instagram, por ser o único a entrar separado no túnel de acesso ao campo, destemperado, mal educado e "ousado".
Coloquei essa ousadia entre aspas porque o menino Neymar gosta de humilhar adversários quando o jogo está ganho. Ele e muitos repetem que essa é a essência do futebol brasileiro. É mesmo? Jura? Não me lembro de Romário e Ronaldo fazendo isso (estou buscando só os de minha geração). Lembro-me deles dando caneta, chapéu, fazendo gol e deixando adversários no chão, tudo isso com objetividade. Erravam, exageravam, já vi o Romário brigando, dando porrada, o Ronaldo frio, gordo, mas sinceramente não me lembro deles abusando de suas “autoridades esportivas” para humilhar jogadores do Compostela ou do Madureira.
É possível ser sério e encantador, jogar sorrindo como o Ronaldinho Gaúcho, com o time vencendo ou perdendo, e encantar até os adversários, sem precisar pisar em ninguém. O 7 a 1 foi um exemplo disso, uma humilhação de resultado, uma mancha na história da seleção, sem a falta de respeito dos alemães. Aliás, respeito faz parte da vida, que está acima do futebol.
Eu acho que a pior coisa que um jogador de futebol possa ter dentro de campo é o desrespeito. Desrespeito ao adversário, às regras e a filosofia desse esporte maravilhoso. Eu amo o futebol e quero que sua filosofia seja preservada.
Sabe a única coisa que eu não vejo artificial no Neymar? O seu talento. Se você diz que ele é só mídia e que não joga nada, aí eu tenho que discordar. Você é um mentiroso ou não entende nada de futebol. O menino é craque! Joga muito! Tem totais condições de se colocar entre os grandes da história deste país. Aliás, tem não, para mim já é símbolo de sua geração. Ganhando ou perdendo Copa, a plástica de seu futebol não será apagada.
Eis que nasceu mesmo um monstro, um Frankenstein da bola! Neymar é um jogador ofensivamente completo: dribla, cria, finaliza bem, faz gol de cabeça, de falta, é artilheiro, dá assistência e encanta. Seu futebol é sim da linhagem brasileira de gênios, o craque da favela, sem medo de zagueiro brucutu e que transforma cara feia em vergonha. E olha, não é fácil confirmar uma carreira com a pressão de ser o futuro craque da seleção desde a base. Recordo-me de uma matéria com o Rei Pelé decretando: esse menino de 13 anos será o futuro craque da seleção brasileira. Antes de estrear no profissional, Neymar já era estrela. Só fui ver algo parecido hoje, com o Vinicius Júnior. Espero que ele consiga confirmar toda a expectativa em cima de seu futebol.
Phillippe Coutinho é um excelente jogador, talentoso e decisivo. Porém, craque é o Neymar. E talvez por esse futebol tão encantador, somado a sua essência de garoto brincalhão, Ney seja tão carismático para alguns. Aliás, alguns não, para muitos. Deixa a bola dele entrar no ângulo do goleiro adversário que você vai ver. O que o brasileiro mais quer é que o Neymar seja o cara do hexa, nasceu e foi criado para isso. Ele se coloca nessa condição dentro e fora de campo, os holofotes estão nele.
Agora chegou a hora de Neymar escolher o que quer. O campo será reflexo de sua mente. Ser o craque do time não é jogar sozinho, ser o dono do time não é aparecer mais que todos. Nem o Romário ganhou sozinho em 94! Aliás, quase que o baixinho atrapalhou o Branco, na "bomba santa" contra a Holanda.
Neymar é excesso: de futebol, vaidade, carisma, arrogância, decisão e individualismo. Ao mesmo tempo em que posta uma foto no instagram e o mundo da bola, incluindo os ídolos de outrora, demonstra apoio ao garoto (fica claro o quanto ele é querido no meio), ele pode também ser lembrado pela figura que chega a um time e exige a condição de ser o batedor de tudo, até de lateral. A figura que arruma confusão com companheiros, adversários e treinador. É vaiado por um estádio inteiro, por seus próprios torcedores, mesmo após uma goleada de seu time.
Muitos ignoram, dizem que se trata de "mimimi", mas os avisos estão e sempre estiveram aí, soltos: trata-se de um cara diferente, excesso de Deus e Diabo. O céu e o inferno, as contradições de ser Neymar.
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