Trocando em Miúdos
Dezenove pinguins-de-Magalhães foram tratados e soltos a 84 quilômetros da costa fluminense
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em parceria com a Marinha do Brasil, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e com o Instituto BW, realizou, na sexta-feira, 30, a soltura de dezenove pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) a 84km da costa da cidade do Rio de Janeiro. Os animais, que estavam sob cuidados veterinários, continuarão agora o processo migratório em direção ao sul do Continente, na região da Patagônia, no Chile e na Argentina. Ao todo, a operação mobilizou 42 profissionais, entre civis e os militares.
Dezenas de animais haviam encalhado na costa Norte fluminense entre os meses de julho e agosto e receberam atendimento especializado pelo Instituto BW, um Centro de Recuperação de Animais Silvestres localizado na cidade de Araruama e autorizado pelo Inea, que acompanhou todo o processo. Os pinguins estavam em estado de saúde delicado, muitos indivíduos debilitados, hipotérmicos, com parasitas e apresentando patologias pulmonares. Assim que os animais foram recolhidos, receberam cuidados de hidratação, aquecimento e medicação, além de exames laboratoriais e de imagem. Do grupo inicial, alguns indivíduos não conseguiram sobreviver.
Como a fase de vida dos animais atualmente é propícia para a migração, os mesmos foram reintroduzidos na natureza em uma corrente oceânica quente do Atlântico Sul, cujo movimento é paralelo à costa brasileira, em direção às colônias reprodutivas da espécie. A localização exata do local da soltura foi realizada em parceria com o Inpe, que já auxiliou outras instituições neste mesmo procedimento. O Grupamento de Navios Hidroceanográficos (GNHo) da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha foi o responsável pelo transporte seguro em alto mar dos animais. A embarcação para a missão foi o Navio AvPqHo Aspirante Moura (H11), incorporado pela diretoria em 2018 e construído no ano de 1987.
A maioria dos pinguins liberados hoje eram fêmeas, e todos eram jovens, nascidos ainda este ano. Os animais foram recolhidos pelo Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BC/ES), da Petrobras. A expectativa de vida da espécie é de 20 anos e, ao contrário da ideia popular, estes indivíduos precisam de calor. A recomendação é que, caso algum cidadão encontre com algum pinguim desta espécie, deve colocá-lo em uma caixa de papelão e acionar os órgãos ambientais.
Os pinguins são aves oceânicas da ordem Sphenisciformes e caracterizadas por não possuírem capacidade de voos, pois suas asas são transformadas em nadadeiras e seus ossos não são pneumáticos (ocos). São adaptadas à vida aquática devido a capacidade de utilizarem suas asas para propulsão, fazendo com que atinjam uma velocidade de até dez metros por segundo embaixo d’água, onde podem permanecer submersas por vários minutos.
A presença de pinguins nas praias do sul e sudeste brasileiro é um fenômeno natural e migratório que ocorre durante o inverno. Estudos arqueológicos de sambaquis ao longo da costa do Brasil revelam camadas de conchas e fragmentos de pontas de flechas, machados, cerâmica, esqueletos humanos e esqueletos de animais, incluindo os ossos de pinguins, indicando que eles vêm para a costa brasileira antes mesmo da colonização portuguesa.
Sobre a espécie - As fêmeas dos pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) colocam dois ovos entre outubro e novembro, sendo que a maioria deles eclodem entre meados de novembro e início de dezembro. Após o nascimento, os pais revezam-se na alimentação dos filhotes durante três a quatro semanas. Após um mês os pais vão em busca de alimentos, enquanto os filhotes são deixados sozinhos e começam a formação de grupos de muitos filhotes próximos aos ninhos e sem a presença dos pais.
Os indivíduos jovens vão para o mar com aproximadamente três meses de idade, permanecendo nele durante cinco anos e indo para o continente apenas para fazer a troca de penas. Após esse grande período ao mar, eles voltam para suas colônias para iniciar seu ciclo reprodutivo.
FOTO/CAPA/divulgação
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