Espaço Cultural | PAPAGOIABA
Magia do cordel atravessa gerações em Juazeiro do Norte, no Ceará.
A história de uma família ilustra força da tradição cultural
Entre lendas, fantasias, notícias imaginadas, críticas, homenagens, vida cotidiana, vilões, heróis, tragédias, comédias, histórias de realismo fantástico... Verso a verso, cabem mil mundos nos pequenos folhetos de páginas simples e, ao mesmo tempo, profundas. Há quem conheça o cordel por seu formato em curtas brochuras impressas e que eram vendidas em cordões nas feiras e mercados. As estrofes da literatura de cordel são companheiras de Abraão Batista, de 85 anos de idade, desde 1949, na cidade sertaneja de Juazeiro do Norte, no Ceará.
O autor é considerado um dos maiores cordelistas brasileiros. "Para fazer o cordel, é preciso disciplina, de métrica, de simetria. É como um poema quase prosa. É alguém que registra os acontecimentos. E o cordel é lido por gente de todas as classes sociais", disse Abraão Batista.
Professor aposentado e xilogravurista, autor de mais de 300 cordéis (com o primeiro livro “O menino monstro” - publicado em 1970), escreve, ainda com muito fôlego, sobre tudo o que vê e ouve. "Agora estou escrevendo “Era Uma Vez o Cão Coronavírus, uma história sobre a luta contra essa pandemia".
Acesse o livro “O menino monstro” - http://cordel.edel.univ-poitiers.fr/files/original/426198bd1e9250f42d136ab2b36aa30f.pdf
Herança de família
FOTO/divulgação
O cordelista Abraão Batista começou a poetizar há mais de sete décadas sob inspiração da mãe, a pernambucana Maria José, apreciadora da leitura de cordel. Passar o amor pelo texto rimado de geração para geração é uma característica da história dessa família cearense: o filho, Hamurábi (também no Cerá), e a neta de Abraão, Jarid Arraes (hoje em São Paulo), também fizeram da vida uma prosa poética cordelista. "Fico muito alegre pela família e também pelos cordelistas novos que estão começando. É preciso disciplina e prestar atenção nas regras", comentou.
O filho Hamurábi
FOTO/divulgação
Hamurábi, o filho de 50 anos de idade, prestou tanta atenção no que o pai ensinou que seguiu os passos e também já fez história. São cerca de 250 cordéis editados e publicados. "Desde criança, eu vi meu pai escrevendo de perto e aprendi com ele. Eu comecei a fazer poesia com inspiração modernista. Queria ser diferente da cultura popular que brotava dentro de casa. Em 1991, dei o braço a torcer e escrevi o meu primeiro cordel. Tinha 20 anos", revelou Hamurábi, que passou a escrever sobre personagens históricos com a intenção de auxiliar professores em sala de aula. Depois de uma crítica da filha (a escritora Zarid Arraes), passou a escrever também sobre mulheres.
A neta Jarid Arraes
Hoje com 30 anos, Jarid Arraes tem carreira consolidada e premiada como escritora em São Paulo, da terceira geração dessa família de cordelistas, foi responsável por publicar um livro que tem uma série de 15 cordéis com o título de Heroínas Negras Brasileiras.
A escritora foi a vencedora do Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da Biblioteca Nacional e finalista do Jabuti com o livro de contos “Redemoinho em Dia Quente”, sobre mulheres que não se encaixam em padrões.
Bem imaterial
Esses versos que circulam de banca em banca, de mão em mão, por todo o país têm reconhecimento como bem imaterial da cultura brasileira, conforme divulga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Um exemplo é que, desde 2018, a literatura de cordel é inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão. O órgão ainda aponta a necessidade de salvaguarda desse tipo de cultura quando aponta a necessidade de que deve prestar apoio à realização de eventos organizados por cordelistas, à circulação dos produtos e também para inclusão da atividade em escolas públicas. (leia registro do Iphan com histórias de artistas brasileiros) Métrica, rima e oração, os três elementos do cordel, podem formar uma lição de casa inspiradora para futuras gerações.
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