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Bombeiros promovem primeira mulher a tenente-coronel
Subdiretora e instrutora da Escola de Defesa Civil (Esdec) do Corpo de Bombeiros, Kellen Salles acaba de se tornar a primeira mulher tenente-coronel combatente da corporação. Ela fez parte da primeira turma de oficiais combatentes, em que houve o ingresso do público feminino. Nascida em Realengo, na Zona Oeste, filha de uma auxiliar de enfermagem e de um chofer, Kellen ingressou nos Bombeiros aos 20 anos em uma turma com 22 mulheres.
“É uma responsabilidade servir como modelo. Fiz diversos cursos e realizei o sonho de ser instrutora da Esdec e da Academia de Bombeiro Militar Dom Pedro II. Também fui a primeira oficial combatente a trabalhar na Esdec e a única até o momento”, explicou a oficial.
Entrevista com a tenente-coronel
Quando você era mais jovem, imaginava que um dia estaria no posto de oficial militar?
Tenente-coronel Kellen Salles – Desde criança sonhava em ser militar, meus olhos brilhavam com as lindas fardas, apesar de não ter militares na família. Sou filha de uma auxiliar de enfermagem e de um chofer. Só pensava em garantir uma profissão com um segundo grau técnico. Fiz Processamento de Dados.
O que a fez acreditar que era possível?
Kellen Salles – Um amigo, ao entrar para o IME (Instituto Militar de Engenharia), me orientou a fazer um curso preparatório. Mesmo com poucos recursos, consegui fazer. Ganhei uma bolsa de estudos e comprava livros em sebos. No segundo ano de preparatório, obtive aprovação na Academia da Força Aérea (AFA) e na EsFAO (Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Oficiais do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro). Já sabia que era a primeira turma que teria mulheres. Acreditei que poderia realizar meu sonho.
Quantos anos tinha quando ingressou nos Bombeiros?
Kellen Salles – Passei no concurso com 20 anos. Foi uma alegria e uma preocupação, porque precisava me apresentar com uma lista de materiais, mas meu pai estava desempregado e, sem o material, teria que recusar a vaga tão sonhada. Mas um casal de vizinhos, sabendo como era importante a oportunidade, me deu de presente o enxoval.
Como foram os primeiros anos?
Kellen Salles – Éramos uma turma de 22 mulheres. Foram três anos de Academia com muitos obstáculos e superações. Dia 15 de setembro de 2001, tirei meu primeiro serviço como cadete no 12º GBM (Jacarepaguá). Foi um evento grave, uma colisão envolvendo ônibus, carro e poste com muitas vítimas. Toda aquela cena me fez refletir e me apaixonar pelo Corpo de Bombeiros, pois entendi que ali eu poderia ser útil e cumprir a missão mais valiosa, que é a de salvar vidas. Ao concluir a Academia, recebi o Prêmio General Lírio, por me formar com todas as notas altas.
Como foi a adaptação da corporação à primeira turma feminina?
Kellen Salles – Comandantes e instrutores receberam treinamentos sobre as questões femininas e fisiológicas das mulheres. Quando nos formamos, os quartéis não estavam preparados: os locais passaram por obras para se adaptar ao grupo feminino. Foi um aprendizado para todos. Em 17 anos de corporação, melhorou muita coisa, mas ainda existem barreiras a serem vencidas. Não pela instituição, mas no geral nós, mulheres, precisamos provar nossa capacidade apesar do gênero.
Como você avalia suas experiências durante esse tempo?
Kellen Salles – Agradeço a todas as experiências: atuar e comandar equipes em grandes desastres, resgates, grandes eventos... Gosto muito de ser instrutora. Fiz diversos cursos e realizei o sonho de ser instrutora da Esdec e da Academia de Bombeiro Militar Dom Pedro II. Também fui a primeira oficial combatente a trabalhar na Esdec e a única até o momento.
Quais são suas funções hoje?
Kellen Salles – Depois de um período de três anos na Defesa Civil Municipal, onde participei do comitê de segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, sendo responsável pelo planejamento estratégico, tático e operacional das ações da DC, retornei à Esdec, onde me tornei também instrutora da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, além de ser instrutora da Escola de Defesa Civil e atualmente subdiretora. Como gosto dessa área de ensino, estou fazendo uma pós de Gestão Escolar.
Você acredita que está abrindo mais espaço para as mulheres?
Kellen Salles – Sim, é uma responsabilidade servir como modelo. Muitas delas vêm falar comigo sobre isso, tentam se espelhar. Amo o que eu faço, não penso em ter outra profissão.
FOTO/Marcelo Ciro
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